Conhecemos bem a necessidade de horas diárias de sono, não é mesmo? Sentimos imediatamente no corpo os efeitos de sua privação, bem como as consequências que esta falta pode gerar para a saúde a curto e a longo prazo.

Várias são as explicações propostas para explicar a sua importância: a necessidade de recomposição do cérebro e do corpo, a conservação da energia, o desenvolvimento cerebral (especialmente nos estágios iniciais da vida) e o processamento da memória e das funções cognitivas.

Os estudos em humanos mostraram que ele está dividido em duas fases: uma denominada de ondas lentas e outra chamada REM (do inglês Rapid Eyes Movement, ou seja, do movimento rápido dos olhos).

O de ondas lentas (o não-REM), que é considerado o primeiro estágio, é subdividido em outros três: o NREM1 que está entre a vigília e o sono; o NREM2 que é a primeira fase de sono propriamente dita; e o NREM3 que é o seu estágio mais profundo.

No NREM1, os músculos ainda estão bem ativos e os olhos abrem e fecham periodicamente. A respiração torna-se gradualmente mais regular e os batimentos cardíacos diminuem. No NREM 2, a atividade muscular é reduzida e a consciência do ambiente ao redor começa a perder-se. Já no NREM3, há uma resposta ainda menor ao ambiente externo e, além da atividade neuronal mais baixa, outros parâmetros fisiológicos como temperatura do cérebro, os movimentos respiratórios e cardíacos, além da pressão arterial estão nos seus menores níveis. Nesta fase, ainda há a possibilidade de ocorrerem sonhos, mas eles normalmente não são recordados, como os que ocorrem no sono REM.

Por sua vez, REM é o estágio mais profundo do sono. Ocorre em todos os vertebrados e é reconhecido pelos movimentos aleatórios, rápidos e latero-laterais dos olhos. A respiração se torna mais rápida e irregular e a função cardíaca e pressão arterial se assemelham aos do estado de vigília (quando acordado). A parte do cérebro responsável por sua ativação é a ponte, localizada no tronco cerebral. É a fase onde ocorrem os sonhos mais bizarros- dos quais normalmente lembramos- e é acompanhada por certa imobilidade (atonia) muscular. Isto ocorre para que não tenhamos reações àquilo que estamos sonhando e funciona como uma espécie de proteção ao próprio corpo.

Um dos primeiros estudos com cães, realizado em 1977 por Lucas e colaboradores, publicado na revista científica Physiology & Behaviour mostrou que esses mesmos estágios podem ser observados neles. Em todo ciclo vigília-sono, são quatro fases: a de alerta, a de estado de sonolência (durante a vigília), a de ondas lentas e a REM (durante o sono).

No entanto, o período de duração em cada uma delas difere: os cães ficaram 44% do tempo em alerta, 21% no estado sonolento, 23% no sono de ondas lentas e apenas 12% em sono REM. Dessa forma, o tempo de sono REM é mais curto do que o observado em humanos adultos em que dura de 20-25% do total do tempo de sono. Este seria um dos motivos pelos quais os cães precisariam dormir mais tempo- em média 12 a 14 horas para um animal adulto.

No entanto, essa duração pode variar de acordo com a idade, a raça e o nível de atividade. As raças grandes e gigantes tendem a dormir mais que as pequenas. Assim como os filhotes, elas podem chegar a até 18 horas de sono diárias. Exercícios físicos também interferem. Estimular os cães com brincadeiras/jogos e passeios diários ajuda a regular o sono. Não exercitar pode fazer com que os cães durmam mais horas durante o dia ou levá-los a episódios de insônia.

Quanto ao horário preferido para dormir, o trabalho de Lucas e colaboradores, aponta que se situa entre 13:00 e 5:00h, sendo a maior frequência entre às 21:00 e 4h.

A falta de sono causa mudanças fisiológicas e comportamentais que incluem alterações de humor, diminuição na capacidade de percepção do ambiente em torno, prejuízo dos reflexos e da função do sistema imune, fadiga muscular, aumento da pressão arterial, entre outros.

Então, ok! Já sabemos que o sono é uma necessidade fisiológica básica que se não for satisfeita traz prejuízos. Mas e o que dizer sobre os sonhos? Por que sonhamos? Os cães também sonham?

Há diversas teorias para tentar explicar sua importância, embora muitos estudos ainda continuem sendo realizados para uma melhor compreensão dele. Os sonhos seriam necessários para facilitar o processo de memorização, o aprendizado, a maturação anatômica e funcional do cérebro, a reposição de catecolamina e para a realização de desejos.

Os que ocorrem durante o sono não-REM parecem promover um tipo de categorização das atividades do dia enquanto os do sono REM seriam uma importante via para a exploração ambiental de forma livre, sem as consequências da ação concreta.

Em filhotes e em cães mais velhos é possível verificar o tremor muscular porque a ponte, a estrutura presente no tronco cerebral e responsável pela ativação do sono REM (e que causa aquela imobilidade protetiva que mencionamos anteriormente), não está completamente desenvolvida nos primeiros e já não funciona tão bem nos idosos.

Viram só? Por tudo o que conversamos, dá pra entender um pouco por que dormir é fundamental e sonhar é preciso. Inclusive para os cães.

Referências indicadas
1-HOW SLEEP WORKS WEBSITE. www.howsleepworks.com.
2-LIVE SCIENCE WEBSITE. What dogs dream about? http://www.livescience.com/53743-dog-dreams.html.
3-LUCAS, EA; POWELL, EW; MURPHREE, OD. Baseline sleep-wake patterns in the pointer dog. Physiology & Behaviour, v.19, n. 2, p. 285-291
4-PETWAVE WEBSITE. Understanding a Dog’s sleeping habits. http://www.petwave.com/Dogs/Basics/Sleeping-Habits.aspx
5-STAUNTON, H. The function of dreaming. Rev Neurosci. V. 12, n.4, p. 365-371, 2001.