Saúde Animal

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Arrancar as próprias penas

Olá,
Sou brasileira residente na Dinamarca e em busca de ajuda na minha terra natal, já que aqui não consigo resolver o problema com meus pássaros. Faz dois anos que ganhei o que aqui eles chamam de papagaio anão. Ela é do tamanho da minha mão verde e vermelha na cabeça, com o corpo verde e o rabo mais para o azul. Quando eu a ganhei ela estava num processo de arrancar as peninhas do pescoço. Eu fui ao veterinário que me disse ser por causa da solidão. Fiz algumas mudanças na alimentação, comecei a dar vitaminas e até um companheiro eu comprei pra ela. Nada disso adiantou, pelo contrário, cada vez mais ela arranca as penas do corpo. Agora ela quase que não tem penas no peito todo. É muito triste vê-la cheia de falhas pelo corpo, parece que está doente. Mas já fui a vários veterinários que me asseguraram que ela não está doente, mas sim, tem o mau hábito de arrancar suas penas. O companheiro dela não tem problema nenhum com a plumagem. Eu gostaria de saber se os veterinários têm conhecimento deste fenômeno e no caso, o que eu deveria fazer. Eu gostaria muito de receber alguma resposta de vocês.
Agradecendo desde já,

Patricia

Colega,
Pela sua descrição não foi possível identificar a ave. Se você souber o nome em inglês ou o nome científico fica mais fácil, mas isso não importa. O arrancamento de penas é um problema relativamente comum em aves de cativeiro. Pode ser decorrente de causa física, psíquica ou metabólica. Como causa física teríamos a possibilidade de parasitas de pena (alguns ácaros são pequenos e ficam no canhão da pena, precisando de exame microscópico para serem visualizados), endoparasitas (tais como Giardia, que é um protozoário. Um veterinário local pode diagnosticar por exame de fezes e tratar preventivamente), alergia por produtos diversos, tais como fumaça de cigarro, mofo de casa, alimento, etc; doenças sistêmicas, tais como doença hepática. A deficiência nutricional é também uma possível causa da síndrome de arrancamento de pena. Portanto, fornecer dieta balanceada.

Como causas metabólicas teríamos o hipotireoidismo. Como fatores psicológicos podemos citar o tédio, medo, falta de segurança, rotina, ansiedade, estresse e outros fatores que desencadeiam esse processo de auto-mutilação. O diagnóstico é difícil, sendo necessário ir eliminando as possibilidades: ecto e endoparasitas: fazer exame laboratorial simples, tais como exame microscópico de penas e exame de fezes. Desverminar e tratar contra Giardia. Alergia: eliminar fatores desencadeadores, tais como fumaça de cigarro, manter a ave em ambiente arejado, etc.

Um veterinário de aves pode dar mais informações. Dieta inadequada: corrigir por alimento balanceado, fornecer também alimento que a ave possa se distrair. Causas psicológicas: variar o ambiente, deixar a ave em local onde haja movimento de pessoas da casa, fornecer brinquedos, galhos de árvores para bicar, enfim, eliminar o tédio e dar segurança a ave. É bem possível, que o fator seja psicológico em sua ave. Alguns exames complementares: hematológico, bioquímico e outros podem ser necessários para se chegar a um diagnóstico. Porém, saiba que o diagnóstico nem sempre é possível. Se nada resolver, pode ser necessário colocar um colar Elizabetano, que impede que a ave arranque suas próprias penas. É leve e a ave logo se acostuma a ele. Não é algo definitivo, mas que pode ajudar. Em alguns casos pode ser necessário o uso de drogas tranqüilizantes, mas na minha opinião, é última alternativa.

Sugiro procurar um veterinário especializado em aves e discutir as possibilidades. Boa sorte.

Dr. Zalmir Silvino Cubas – Diretor do Parque das Aves Foz Tropicana – Foz do Iguaçu – PR

Fiquei muito feliz de receber seu mail. Por outro lado, triste por constatar que até agora não encontrei nenhum veterinário que eu sentisse que entende alguma de pássaros. Ontem descobri pela internet que o nome científico da minha pássara é Agapornis ou inseparáveis e em inglês “love birds”.

Eu já fui com minha piriquita (acho que é assim que se chama em português) a diferentes veterinários e até a uma terapeuta de bichos. Uma veterinária passou uma dose de hormônio que fez com que as cores da plumagem dela se modificassem. Depois disto eu não quis mais experimentar.

Quanto as possibilidades que você levantou, de por exemplo parasitas, nenhum exame foi feito pelos veterinários. Mas o companheiro dela não apresenta nada!

Quanto ao ambiente arejado, pode ser que tenha alguma influência, porque aqui na Dinamarca, principalmente agora, com a temperatura de -10 graus e a calefação ligada o dia inteiro, acredito que o ar não seja dos melhores. Acho que quanto a dieta, considero-a balanceada: ela come de tudo e eu procuro variar o máximo possível.

A outra possibilidade psicológica, esta talvez seja bastante forte. Eu tenho uma vida profissional com horários bastante variados. Eu trabalho na televisão dinamarquesa muitas horas por dia e quase nunca estou em casa. Por isso comprei um machinho pra ela, mas parece que ele stressa ela, porque ele só quer ficar com ela o tempo todo. Quando eu comprei ele no ano passado foi difícil pra ela aceitá-lo. Ela era muito má com ele. Com o tempo ela se acostumou mais e até tomou gosto pelo cruzamento. Há épocas em que os dois estão completamente enamorados.

Não sei também se a luz tem alguma influência. Nesta época do ano temos luz das 9h até as 15h somente. Como você mesma diz é difícil se ter um diagnóstico. Eu realmente sou muito apaixonada por minha passarinha, e gostaria de tentar tudo que fosse possível pra que ela estivesse bem. Ela é muito inteligente e sensível. Ela e seu companheiro não vivem em gaiola porque não gosto de prendê-los. Eles vivem soltos e moram dentro de um armário que eles adoram. Eles vivem lá dentro e saem pra comer e beber na gaiola e pra fazer bagunça na casa.

Quando eu chego em casa ela sai da casa dela pra conversar comigo e a noite ela dorme na minha cama enroscada no meu pescoço. É um hábito que se tornou diário nos últimos tempos. Estou lhe contando estes detalhes pra lhe informar melhor sobre os hábitos dela. Me alegrou bastante saber que existe o tal colar Elizabetano, porque há duas semanas atrás eu tentei improvisar um colar de pano pra impedir que ela se depenasse mas ela acabou roendo tudo. Meus amigos disseram que eu estava doida em fazer uma roupa daquelas, mas agora vejo que tão maluca não é a idéia.

Gostaria de saber aonde encontrar este colar no Brasil, porque pretendo passar férias no Rio de Janeiro no início do ano que vem, e aí poderia comprá-lo. Aqui eu já sei que não tem.
Mais uma vez gostaria de agradecer sua resposta que muito me incentivou pra continuar na luta..

Obs: Você acha que o fato dela ter companhia depois de adulta também pode ser fator de stress? Mas devo lembrar que ela começou a se depenar quando estava só.

Patricia
Prezada Patrícia,
As informações que você forneceu me permitem ter uma idéia melhor do ambiente onde vive sua ave e o comportamento dela. Seria importante antes excluir a possibilidade de ectoparasitas e endoparasitas. Quanto a qualidade do ar é realmente difícil modificar isso em um país de temperaturas tão baixas, onde é impossível ficar sem calefação. Porém, é importante que haja boa iluminação na casa, mantendo as cortinas abertas e até mesmo luz artificial (pelo menos 12 horas de luz no dia). A falta de luz comprovadamente leva à depressão no homem e possivelmente pode ter efeito nos animais. Existem lâmpadas mais adequadas que a incandescentes.

Uma vez tomado essas medidas, você poderia tentar modificar esse comportamento, que parece ser psicológico. Sua ave esteve muito tempo isolada e ligada apenas a você. Ela associou a imagem humana à sua própria, talvez por isso não aceito a presença do macho no início. Porém, ter adquirido um macho para companhia foi uma boa idéia. Assim, sua ausência durante o dia pode ser algo frustante para a avezinha; outra possibilidade é de que sofreu um evento frustrante que levou ao estresse e desencadeou o processo. Podemos comparar o hábito de arrancar penas a roer unha nos humanos, uma vez que se começa, torna-se difícil parar do hábito, mesmo que tenha passado o evento frustrante ou estressante. Torna-se, então, a ser um hábito.

Como certas situações não podem ser mudadas (como por exemplo, parar de trabalhar para ficar com a ave ou colocá-la em ambiente externo) o melhor seria colocar um colar elizabetano por certo período, na expectativa que iniba esse comportamento.

Temos em nosso Parque uma ave que nada fez cessar esse hábito e no momento está com o colar. Não sei onde o colar poderia ser obtido no Rio de Janeiro. Talvez em um pet shop especializado. O colar é de vinil e tem fechos, que permitem ajustá-lo ao tamanho do pescoço. Nos Estados Unidos um dos fornecedores é a empresa VSP – Veterinary Specialty Products Inc, home-page http://www.vet-products.com, o e-mail é vetspecpro@aol.com. Acredito que uma clínica especializada na Dinamarca tenha esses colares. Sucesso.

Dr. Zalmir Silvino Cubas – Diretor do Parque das Aves Foz Tropicana – Foz do Iguaçu – PR