Saúde Animal

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Aspectos Nutricionais da Urolitíase Felina




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INFORMAÇÕES GERAIS

Os fatores nutricionais têm sido considerados entre as principais causas da Síndrome Urológica.

A administração de quantidades inadequadas dos diversos elementos minerais na dieta felina , associado à fatores como idade , sexo , confinamento e a presença de infecção do trato urinário , favorecem à formação dos diferentes tipos de cálculos.

Estas condições podem favorecer a supersaturação da urina com cristais , principalmente os de fosfato triplo ou estruvita ( fosfato amonio magnesiano ) e esses por sua vez , predispõe à formação de cálculos . Entre os diversos tipos de cálculos , os chamados de estruvita , são os que ocorrem com maior frequência nos gatos 6. Outros cálculos como os de urato de amonio , oxalato de cálcio e fosfato de cálcio , são relatados com menor frequência.

O grau de supersaturação da urina com cristalóides calculogênicos pode ser influenciado por um aumento na excreção renal desses cristalóides, que por sua vez , é observado nos casos de ingestão de dietas ricas nesses componentes minerais.

Embora se afirme que os gatos alimentados com dietas secas corram maior risco , gatos alimentados com diversas dietas ( seca/úmida ) , desenvolvem a síndrome.

As rações secas favorecem o desenvolvimento da síndrome mais do que as dietas úmidas enlatadas , pois os animais que recebem dietas secas têm um consumo total de água menor do que aqueles que ingerem dietas úmidas , havendo uma consequente diminuição no volume urinário , e a baixa densidade calórica das dietas secas , resulta numa maior ingestão de minerais , favorecendo um aumento da concentração urinária de cristalóides calculogênicos.

TIPOS DE CÁLCULOS
Cálculos de estruvita

Estudos têm demonstrado que o principal mineral envolvido no aparecimento da urolitíase é o magnésio , uma vez que os cálculos de estruvita ( fosfato amônio magnesiano ) são os mais frequentemente encontrados em felinos acometidos .

Durante muito tempo acreditou-se que quanto maior a quantidade de magnésio na dieta , maior a chance do desenvolvimento da síndrome.

Hoje acredita-se que para evitar a precipitação dos cristais de estruvita na bexiga , a manutenção de pH urinário ácido seja mais importante do que o controle da ingestão de magnésio , uma vez que os cristais de estruvita têm sua solubilidade diminuida em pH > 6,4.

O tipo de dieta e a frequência com que o animal a recebe , podem interferir diretamente no pH urinário , favorecendo ou não a precipitação dos cristais de estruvita.

A proteína de origem animal é rica em aminoácidos sulfurados como cisteína e metionina , essa oxidação leva a produção de urina ácida . Em contrapartida , os cereais e vegetais de um modo geral promovem a formação de urina alcalina devido a grande quantidade de potássio e ânions inorgânicos . Assim , quando os animais são alimentados com produtos cárneos ou ração úmida enlatada , composta por derivados de origem animal , tendem a produzir urina ácida , enquanto a dieta seca , que em sua formulação estão incluidos cereais , tendem a resultar na formação de urina alcalina.

Outro fator considerado de importância fundamental na produção de urina alcalina , mesmo que temporária , é a onda alcalina pós-prandial , que resulta da secreção de ácido gástrico em resposta à ingestão de alimento . A perda de ácido clorídrico é compensada pelos rins , que passam a conservar ácidos e excretar bases , o que determina a formação de urina alcalina . A alcalinização máxima da urina ocorre aproximadamente quatro horas após a ingestão do alimento e está na dependência do volume ingerido ; portanto , a alimentação ad libidum , assim como a ingestão de produtos de origem animal , podem gerar uma onda alcalina pós-prandial de magnitude moderada , resultando em pH urinário próximo à 7,0.

Cálculos de urato de amônia
Dos cálculos encontrados em felinos , os de urato de amônia e o ácido úrico , apresentam baixa incidência em felinos. São localizados tanto no trato superior quanto no trato inferior e estudos indicam que os machos são mais afetados que as fêmeas.

Um defeito da reabsorção tubular renal e anomalias porta-vascular têm sido incriminados como causas em poucos casos , a causa de formação na maioria dos cálculos , por urato de amônio não foi estabelecida4. Contudo , a formação de urina altamente ácida e altamente concentrada , associada ao consumo de alimentos ricos em precursores de purina (especialmente fígado ) parece estar envolvida em alguns casos.

Cálculos de oxalato de cálcio
Os cálculos de oxalato de cálcio apresentam baixa frequência em felinos . Esses tipos de cálculos são localizados nos rins, bexiga e uretra, sendo os gatos machos mais afetados que as fêmeas.

A causa (ou causas) primária da urolitíase de oxalato de cálcio de ocorrência natural é desconhecida.

Embora a deficiência de vitamina B6 experimentalmente induzida, tenha resultado em nefrocalcinose por oxalato , em gatos , não foi observado uma forma naturalmente ocorrente desta síndrome.

Vale a pena notar que foi relatado que o magnésio é inibidor da cristalização do oxalato de cálcio em ratos e em seres humanos , por esta razão , algumas vezes recomenda-se a adminstração oral de magnésio para que seja evitada a recidiva de urólitos de oxalato de cálcio.

O uso de acidificantes e/ou sódio suplementar (cloreto de sódio) foi associado a hipercalcemia em algumas espécies.

Cálculos de fosfato de cálcio
Este tipo de cálculo é o que possui a menor incidência entre os demais já citados . São localizados nos rins , bexiga e uretra e ocorrem em machos e fêmeas em igual frequência.

Em algumas circunstâncias , cálculos de fosfato de cálcio ocorrem como resultado da mineralização de coágulos sanguineos que se formaram e ficaram encarcer ados no sistema urinário.

PREVENÇÃO
A prevenção de cálculos de urato de amônia deve englobar o consumo de dietas pobres em precursores da purina (fígado) , e um esforço para produção de urina menos ácida ( pH +/- = 7,0 ) que não seja altamente concentrada.

Em cálculos de oxalato de cálcio não foram publicados estudos controlados para avaliação da eficácia de prevenção da formação de cálculos de oxalato de cálcio.

A prevenção da formação de cálculos de estruvita baseia-se na administração de um manejo alimentar.

O objetivo primário do manejo alimentar é reduzir a concentração urinária de magnésio e fosfato , através da redução da sua excreção e manutenção do volume de urina.

Um objetivo secundário é manter um pH ácido da urina. Contudo, tanto a ocorrência como a recidiva podem ser previnidas , fornecendo -se somente dietas que contenham 20mg ou menos de magnésio / 100 Kcal . Essas podem ser compradas comercialmente , ou podem ser preparadas à partir de rações caseiras.

O fornecimento contínuo de uma dieta calculolítica é necessário em casos raros que recidivam , mesmo com consumo restrito de magnésio.

Finalmente , e como resumo , o manejo alimentar para controle da urolitíase , deve reunir as seguintes características:

deve proporcionar nutrição completa para o gato adulto;
deve permitir a formação de urina ácida ( o pH urinário do gato pode scilar normalmente entre 5,5 e 8,5 ) . Em casos de urolitíase , o ideal é mantê-lo abaixo de 6,5;
a restrição de magnésio pode ser benéfica porque há um pequeno percentual de gatos que não respondem positivamente à acidificação urinária mas , por outro lado respondem à uma restrição de magnésio;
fornecer alimentação ad libitum , tentando minimizar os efeitos das marés alcalinas ( onda alcalina pós-prandial );
manter o equilíbrio hídrico : é fundamental que o gato sempre tenha livre acesso à água limpa;
também é importante que a dieta seja altamente digestível.

Sergio Luís A. Pitarello
Médico Veterinário