Saúde Animal

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Fraturas em Répteis




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fratura_iguana1As fraturas ocorridas nas extremidades dos répteis são raramente abertas (expostas) e cominutivas (fragmentadas). Algumas fraturas patológicas secundárias a doença ósseo metabólica podem ser reparadas por fixação externa. Em outros casos, a fixação interna é a preferida. Quando existe um trauma tecidual severo, perda do suplemento vascular, infecção granulomatosa e inflamação, a amputação deve ser realizada. Cabe salientar que os répteis adaptam-se extremamente bem com um membro totalmente ou parcialmente amputado.

fratura_iguana2As fraturas nos ossos longos freqüentemente são resultados de trauma ou doença ósseo metabólica. Como citado anteriormente, pela característica da pele dos répteis de ser forte e elástica, as fraturas abertas não são freqüentes. Poucas informações sobre a cicatrização óssea nos répteis estão disponíveis, mas quando comparada com a dos mamíferos e aves ela se mostra muito mais lenta. O tempo requerido para uma cicatrização completa de uma fratura com causa traumática, geralmente varia entre seis a dezoito meses. No entanto as fraturas causadas por doença óssea metabólica cicatrizam em um tempo muito mais curto, geralmente entre seis e oito semanas. Como princípio básico para do manejo de uma fratura, deve sempre levar em conta as forças nela exercidas como compressão, rotação e desvio. Estas forças devem ser neutralizadas para promover uma cicatrização óssea adequada. Considerações práticas para estes procedimentos incluem o requerimento funcional do paciente, custo dos materiais, facilidade de aplicação ou execução, disponibilidade do equipamento, e grau de experiência do cirurgião.

fratura_iguana3A imobilização ou coaptação externa envolve esparadrapo, seringas, palitos, dentre outros. É provavelmente o método mais utilizado dentre os profissionais para fixação de fraturas na ortopedia em répteis, pois é um procedimento simples, requer um mínimo de equipamento, toma pouco tempo para sua aplicação, pode ser realizada com um mínimo de tempo anestésico, e geralmente é barata.

A anestesia geral sempre é indicada nestes procedimentos para evitar fraturas iatrogênicas e/ou cominutivas além de minimizar o stress. Todas as formas de imobilização deveriam ser monitoradas de perto, para se evitar edema do membro imobilizado, comprometimento vascular, afrouxamento, deslize e/ou sujeira da imobilização.

A imobilização interna é indicada para o reparo de fraturas severas ocorridas nos ossos longos. A imobilização externa freqüentemente não promove uma estabilidade rígida e não é bem tolerada por muitos animais. A imobilização externa não é adequada para répteis aquáticos ou semi-aquáticos. Os principais acessos cirúrgicos para os ossos longos dos répteis são similares aos dos mamíferos. Pinos de Steinmann, fios de Kirschner, placas, parafusos e até mesmo agulhas espinhais são utilizados para as osteossínteses.

fratura_iguna6Segue abaixo a descrição de um caso cirúrgico reparativo de um iguanídeo com fratura na tíbia, rádio e ulna, o qual foi realizado por nossa equipe formada pelos médicos veterinários Carlos Alexandre Pessoa, Luis Otávio Gonzaga e Maria Aparecida Rodrigues, que se apresentava com a seguinte história clínica: iguana adulto com 800 g de peso vivo, apresentava à palpação fratura em membro posterior esquerdo (tíbia) e membro anterior direito (rádio e ulna), após queda do 11° andar de um edifício. No exame radiológico observou-se fratura completa no terço médio de rádio e ulna direitos, com perda de eixo destes ossos e fratura completa oblíqua no terço proximal da tíbia esquerda, com perda de eixo ósseo. Optou-se pela osteossíntese com auxílio de pinos intramedulares. O procedimento anestésico utilizado consistiu em propofol seguido de isofluorano. Para intubação utilizou-se sonda endotraqueal adaptada a partir de um scalp. O acesso venoso (veia medial da cauda) para fluidoterapia com solução de Ringer lactato foi realizado com agulha hipodérmica 25X7. O procedimento cirúrgico foi realizado cinco dias após o traumatismo. A osteossíntese da tíbia foi feita através de fixação óssea com pino de Steinmann de 1,5 mm inserido no sentido ortógrado. No caso do rádio e ulna, as fraturas estavam no terço médio da diáfise. Em cães, o rádio não é tratável com colocação de pino intramedular como os outros ossos longos principais por várias razões. Como o rádio é relativamente reto e ambas as extremidades são completamente recobertas com cartilagem articular, a colocação de pino em sentido contrário resulta na entrada do mesmo ou no cotovelo ou na articulação cárpica. Um pino medular único não proporciona uma fixação estável de uma fratura radial mesmo que também se coloque um pino na ulna. Um pino intramedular só proporciona um alinhamento; portanto, também se deve utilizar uma fixação suplementar para se obter a estabilidade. No caso em estudo, optamos pela utilização de pino intramedular, sendo que a estabilidade e a posição anatômica dos membros foi obtida pela imobilização das articulações proximais e distais das fraturas por meio de penso esparadrapado. Como se tornava necessário a utilização de um pino relativamente flexível e que deslizasse dentro do canal medular optou-se pela utilização do mandril de uma agulha espinhal 20G, inserido no canal medular da ulna por via retrógada e do rádio por via ortógrada. Mesmo sabendo que a colocação de pino intramedular é o método menos desejado de tratamento das fraturas radiais e ulnares em cães, optou-se por este método pois as extremidades ósseas distais fraturadas apresentavam-se cruzadas, tornando impossível o realinhamento ósseo por imobilização externa. O diâmetro dos ossos (rádio e ulna) era muito pequeno impossibilitando a utilização de placas, parafusos ou transfixação percutânea, mesmo se fossem utilizadas agulhas hipodérmicas, ligadas com polímero acrílico e tubo plástico. Faz-se necessário salientar que no rádio, o pino intramedular serviu apenas como ´´guia“ para o alinhamento das extremidades fraturadas. Foi necessária cerclagem com fio de Nylon 2-0 pela presença de múltiplas fraturas longitudinais no fragmento distal do rádio. O caso clínico demonstra que, nem todas as afirmações ou informações literárias para procedimentos ortopédicos descritos em pequenos animais são ´´verdades“ em répteis. Cada caso deve ser estudado de forma particular e, devido ao tamanho, peso, anatomia própria e tempo de formação de calo ósseo estimado entre seis e dezoito meses na espécie em estudo, outras técnicas e materiais poderiam ser utilizados para a osteossíntese.

CARLOS ALEXANDRE PESSOA
MÉDICO VETERINÁRIO
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