Saúde Animal

Saude Animal

Saúde Animal

Esquilo serelepe

Escrevo à seção “Pergunte ao Veterinário”, pois tenho um novo companheiro e preciso esclarecer algumas dúvidas. Trata-se de um esquilo, comumente chamado serelepe, e é isso que ele é: um serelepe terrível. Apareceu à aproximadamente um ano em nosso bairro e minha casa possui uma enorme área verde, onde provavelmente o sapeca está morando. No primeiro dia de aparição aqui em casa, meu pai foi mordido pelo pequeno, provavelmente por engano, pois ele o alimentava na mão. O pequeno Dentinho, como nós o batizamos, provavelmente se assustou com algum movimento e mordeu a ponta do dedo de meu pai. Conclusão, visitas ao Pasteur e muito soro anti-rábico. Meses depois foi a vez do meu tio, pois o safado acostumou-se a subir nas pessoas (principalmente em mim) e ficar “fuçando” em botões, anéis, relógios, qualquer coisa redonda que brilhasse ou fosse diferente. Meu tio também foi mordido no dedo e foi conhecer o Pasteur durante uns 16 dias. Com o passar do tempo o Dentinho se acostumou com todo mundo, perdeu o medo, tem um “apetite” insaciável, pois nos consome quase um quilo de nozes, avelães, amendoins, castanhas, por quinzena (enterra muita coisa), guarda outro tanto e come muito pouco em nossa frente. O problema é que ele entra em casa, corre atrás de todo mundo, não dá sossego e não foge mais da mangueira de água (no calor até gosta do banho). De manhã, quando ainda está fresquinho, suas visitas e “ataques” à nossa dispensa de nozes é constante, a brincadeira dura quase 2 horas e se não damos bola para ele, ele fica atrás de nós pelo quintal. Minhas dúvidas são:

1) Qual o nome científico;

2) Quantos anos vive;

3) Se constitui família (como os saguís, ou se tem hábitos solitários)

4) Como podemos fazer para “acostumá-lo” mais mansamente com os habitantes da casa, pois nosso medo é de levarmos novas dentadas, já que teremos esta semana um bebê na família e ele pode pular na criança, no berço, etc, pois como já disse, entra em casa na maior “cara de pau”, o que nos leva a trancar portas e janelas uma boa parte do dia. Manter os cães soltos não adianta, pois ele já arrumou vários caminhos para chegar em segurança até nós. E perdeu o medo da Tieta, nossa gata, hábil caçadora, que agora não o incomoda mais. Acho que desistiu.

5) O perigo da transmissão da raiva é tão grande assim, se precisamos correr ao Pasteur e tomar soro?

6) Não há uma vacina preventiva para nós, “tratadores” do pequeno sapeca?

Adoramos o pequeno Dentinho e queremos ele aqui perto, em segurança, mas prezamos a nossa segurança também, por isso preciso tirar estas dúvidas.

Desde já agradeço as respostas às perguntas e posso mandar uma foto scanneada do pequeno, pois gastamos um filme de 36 poses com o danadinho ano passado, se vocês quiserem, para facilitar a identificação.

Acho ótimo o trabalho de vocês e seu site é um dos meus favoritos.

Cynthia
Cynthia,
Seu animal é um serelepe. Normalmente é um animalzinho tímido, que evita as pessoas. Vocês devem tratá-lo muito bem para adquirir esses hábitos. Quanto aos aspectos sobre a biologia desse roedor, sugiro entrar em contato com o médico veterinário Rogério Ribas Lange, que implantou em Curitiba um criadouro de serelepes. O risco de raiva é mínimo, contudo deve-se evitar mordidas e quando houver acidentes, continue procurando o Instituto Pasteur. Pessoas que lidam com animais podem tomar vacina preventiva contra a raiva. Procure o Serviço de Zoonoses e Controle da Raiva na sua cidade ou estado, eles darão todas as informações sobre a vacinação e necessidade da vacina. Parabéns pelo respeito aos animais. Mesmo após algumas mordidas, o esquilo continua sendo querido e respeitado.

Dr. Zalmir Silvino Cubas – Diretor do Parque das Aves Foz Tropicana
em Foz do Iguaçú-PR
O Zalmir enviou-me a sua mensagem. É bastante curiosa, trabalho há alguns anos com serelepes em vida livre e em cativeiro, porém jamais soube de um caso onde eles se comportassem desta forma.

Em princípio vejo duas possibilidades:

Possibilidade 1: Tratar-se de um filhote de serelepe nativo (Sciurus ingrami) que surgiu no seu quintal vindo de algum lugar próximo após ter se emancipado da família e estar em busca de um novo território(é assim que acontece na natureza, os filhotes emancipados são expulsos da área da mãe e saem procurando novas áreas). Sendo jovem e inexperiente e encontrando proteção atenção e segurança tornou-se surpreendentemente confiado.
Possibilidade 2: Tratar-se de um esquilo exótico importado (muitos tem entrado no Brasil ultimamente importados por lojas de animais e são vendidos podendo vir a fugir) Podendo ser talvez um Sciurus carolinensis que tenha fugido de alguém. O comportamento descrito é mais próprio destes e já observei um caso algo parecido aqui em Curitiba onde um esquilo solto entrava em uma casa e levava material para seu ninho tendo destruído um sofá e um colchão (fatos desta natureza são comuns na Europa onde esta espécie foi introduzida).

Uma foto ajudaria muito no esclarecimento desta situação, peço que a envie. Segue anexo a foto de um filhote recém emancipado, repare que a cauda ainda não é muito grossa e tufosa (próprio dos adultos), o adulto chega a cerca de 280 gramas. O esquilo exótico é geralmente maior apesar de
existirem diversas espécies.

Posso em seguida, a partir da foto lhe passar maiores informações e dados biológicos.

Rogério Ribas Lange – Médico Veterinário M.Sc. – Zoológico de Curitiba e Museu de História Natural