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Leishmaniose – Revisão Histórica




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Os protozoários do gênero LEISHMANIA, do qual o primeiro descrito por Ross, no ano de 1903, compreende várias espécies encontradas em todo o mundo, e estas diferentes espécies vem sendo responsabilizadas pela doença, com sintomatologia característica conforme a espécie causal. Afim de bem caracterizar cada uma dessas doenças, e concomitantemente cada espécie causal, assim como os vetores comumentemente encontrados como veiculadores desse protozoário parasita, resolvi fazer um resumo dessas diferentes enfermidades infecto-contagiosas, todas indistintamente chamadas por Leishmanioses, porém adquirindo nomes próprios conforme a região do globo em que vem sendo assinaladas.

1 – BOTÃO DO ORIENTE OU LEISHMANIOSE TEGUMENTAR –

Sinonimia: Cravo ou Botão de Biskra , Botão de Touggourt, Botão de Zibans, Botão de Laghouat e Botão d’Ouargla na Argélia; Botão de Tebessa ou de Gafsa na Tunísia; Botão do Nilo no Egito; Botão d’Alep na Siria; Botão de Bagdad ou de Bouchir na Arábia; Botão de Delhi na Índia, Botão das Filipinas nesse mesmo país e Úlcera de Baurú no Brasil.

Essa moléstia infecto-contagiosa, é causada no velho mundo por diversas espécies desse gênero – conforme abaixo relacionado , e no Brasil, embora inicialmente fosse confundida com o mesmo agente causal do velho mundo, modernamente lhe é atribuído um agente causal específico.

1 – Leishmania donovani (Laveran et Mesnil, 1903): Agente das Leishmanioses viscerais, Calazar Indiano, Leishmaniose Infantil da Área do Mediterrâneo e o Calazar Americano ou Leishmaniose visceral americana.
2 – Leishmania canis (Cardamatis,1911): Leishmaniose visceral dos cães e gatos.
3 – Leishmania infantum (Nicole, 1908): Calazar na área do Mediterrâneo, hoje reconhecidamente idêntico ao Calazar Indiano, de Wright.
4 – Leishmania tropical (Wright , 1903): Agente da Leishmaniose cutânea ou botão do Oriente, Botão de Biskra ou Botão de Aleppo.
5 – Leishmania braziliensis (Vianna , 1911): Determina a Leishmaniose tegumentar americana, ou Leishmaniose cutaneomucosa, Espúndia, Uta, Úlcera de Baurú no Brasil.

Como frisei na sinonimia dessa enfermidade, é ela no Brasil conhecida pelo nome de ÚLCERA DE BAURÚ, pelo fato de haver sido primeiramente assinalada na cidade de Baurú do estado de S. Paulo, porém em pessoas procedentes de outras regiões do país que para Baurú vieram a procura de tratamento médico , devido situar-se nessa cidade o entroncamento ferroviário com os estados de Mato Grosso e Goiás , de onde procediam em sua maior parte os doentes.

O vetor para esse protozoário, é um mosquito (Ordem Diptera, Clase Insecta). primitivamente descrito no gênero Phlebotomus, e do qual foram já descritas várias espécies conforme a região em que é encontrado. Na Europa, Ásia e África, prevalece ainda essa mesma denominação (Phlebotomus) para esse agente vetor. No Brasil e nas Américas, é esse vetor agora caracterizado por razões entomológicas, no gênero Lutzomyia, porém com espécies ainda por serem definidas, daí aparecerem nos trabalhos que vem sendo feitos no Brasil, apenas com o qualificativo: spp (espécie por ser definida), ou: L. spp. Trabalhos na América Central identificaram já as espécies: L. intermedia e L. panamensis como vetores para a mesma doença naquela região americana.

Na realidade, com base nos trabalhos já efetuados no Brasil, parece existir mais de uma espécie funcionando como vetor para essa doença , assim como na América em geral . São, no entretanto, no Brasil, conhecidos pelos nomes populares de Mosquito Palha, ou Cangalhinha. Nos Estados Unidos e países de língua Inglesa, é esse vetor conhecido vulgarmente por: ” sandfly “.

Nota – Trabalho de identificação desse mosquito efetuado nos EUA, na Universidade do Missouri – Faculdade de Medicina Veterinária – inclusive com foto do mesmo, efetuado pelos pesquisadores RMCorwin e Julie Nahm, pode ser visto pela Internet, no seguinte endereço: http://www.missouri.edu/~vmicrorc/Arthropods/Diptera/Lutzomyi.htm

2 – LEISHMANIOSE TROPICAL OU VISCERAL

Sinonimia – Kala-Azar, Moléstia de Sahib, Fébre Dum-Dum, e outros nomes. Esta forma clínica da doença, endêmica em numerosos pontos da Índia e da África, é produzida pelo mesmo protozoário descoberto no ano de 1903, por Leishman, no Hospital Militar de Londres, e alguns meses após por Donovan em Madras. Pouco tempo depois, Manson e Low também o isolaram de casos de pessoas internadas no Hospital da Marinha em Londres, e também na Alemanha por Marchand e Ledingham, estes últimos em cadáveres de pessoas mortas procedentes da China. Recebeu essa doença o nome de Leishman, assim como seu agente causal, em consideração e homenagem a uma sua monografia pioneira escrita a respeiito desse agente causal e da própria doença.

Pelo fato desse protozoário parasita ser heteroxeno, ou seja, necessitar passar de um animal ou do homem primeiro para um vetor, no caso um mosquito (Ordem Diptera, Classe Insecta), onde sofre transformações em sua fórma vegetativa para amadurecendo poder então se tornar infectante a través da picada desse mosquito para um outro organismo suscetível, que pode ser o homem ou um outro animal mamífero. Foram até agora já assinalados como suscetíveis de contrairem a doença além do homem, também o cão em sua maior parte dos casos, porém também animais da espécie eqüina e de laboratório como o hamter.

As espécies causais desse protozoário parasita, ou seja aquelas capazes de infectarem o homem ou animais, foram já descritas e caracterizadas em diversas espécies; No velho mundo, prevalecem ainda as espécies denominadas: Leishmania donovani (Laveran e Mesnil , 1903), com a sub espécie denominada: L. tropical (Wright, 1903). No Brasil, regiões amazônicas e da América do Sul, a espécie: L. brasilienzis (Vianna , 1977).

Muitos trabalhos vem sendo realizados, principalmente em nosso país pelo Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro e pelo Instituto Butantam de São Paulo, com a finalidade de melhor conhecendo poder também melhor serem realizados trabalhos profiláticos contra esse mal, que assola principalmente as regiões recém desbravadas de nosso interior. Mesmo no interior paulista, na região de Araçatuba, recentemente vários focos dessa doença foram assinalados em cães, o que está sendo pesquisado pela Faculdade de Medicina Veterinária local , pertencente a UNESP. Enfim, para melhor entendimento a respeito dessas moléstias, pois são na realidade várias e não uma só, apenas trabalhos ingentes poderão elucidar melhor seus agentes etiológicos e respectivos vetores, e assim nortear os trabalhos para sua erradicação.

Leishmaniose – artigo
Mosquito vetor – transmissor da Leishmaniose

Dr. Carmello Liberato Thadei -
Médico Veterinário - CRMV-SP-0442