Saúde Animal

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Você sabe como surgiu o Aquarismo?

nishikigoisSurgiu na Antigüidade, quando os homens pescavam nos rios e mares para alimentar sua família ou comunidade. Saber quais espécies eram melhores ou piores, quais podiam ou não ser consumidas, quais eram ou não venenosas, já constituía, por assim dizer, uma forma muito rudimentar de Aquarismo.

Há 4000 anos os egípcios começaram a desenvolver algumas técnicas para manterem peixes vivos em cativeiro, para consumo. Já conheciam o vidro e projetos para construção de tanques, que foram utilizados com eficiência. A manutenção dos espécimes era por pouco tempo, pois não havia técnicas avançadas para limpeza e oxigenação constantes para manter o ritmo biológico dos tanques equilibrado.

Aristóteles descreveu 115 espécies de peixes do Mar Egeu, e considera-se essa época como precursora do surgimento da Ciência que hoje conhecemos como Ictiologia, ou seja, o estudo dos peixes. Sua classificação era muito rudimentar, baseando-se nas cores, no tamanho ou formato dos espécimes. Tal procedimento o fazia classificar como diferentes peixes da mesma espécie, por vezes.

Não havia interesse em cultivar peixes como ornamento no Mundo Antigo, por isso não podemos dizer que houve algum desenvolvimento no Aquarismo.

Nas viagens que fez pelo Oriente no séc. XIII, Marco Polo observou e nos escreveu que os chineses já possuíam o hábito e técnicas muito avançadas de cultivo de peixes em cativeiro, e é desta época que temos notícia de que espécies estavam sendo criadas com finalidade ornamental. Havia o cultivo de exemplares selvagens, para consumo, e a partir de algumas dessas espécies selvagens, através de cruzamentos selecionados (dominavam a Genética?), chegaram a uma espécie um pouco mais sofisticada e com pouca beleza, um pouco mais “domados”, e que hoje chama-se Carassius auratus (note-se que totalmente diferente do que conhecemos hoje). Alguns espécimes foram levados para o Japão, onde também já havia habilidosas técnicas de cultivo písceo. Os japoneses melhoraram a espécie, e a tornou o peixe mais popular para ornamentação. Era muito resistente emais bonito. Hoje, C. auratus é conhecido como peixe-japonês (Kínguio).

carpaNo Japão houve o desenvolvimento do cultivo de carpas, Cyprinius carpio, espécie-prima do peixe-japonês, onde também foram muito melhoradas. Desenvolveram as Nishikigoi, que significa, aproximadamente, carpa ornamentada com brocado.

Ainda hoje ambas as espécies são alvo de muitos aficcionados pelo aquarismo, sendo cada vez mais aperfeiçoadas, fazendo alguns exemplares alcançarem exorbitantes cifras (carpas senis com uma coloração perfeita, em campeonatos, chegam à casa dos milhares de dólares).

A primeira obra publicada sobre técnicas de criação de peixes ornamentais chama-se “Livro dos peixes vermelhos”, foi escrita pelo chinês Chang Chi En Tê, cujo título original é “Chu Sha Yu P’u”.

Com o advento da criação da Taxonomia por Linnaeus, que é a ciência das leis de classificação científica, permitiu-se que os peixes fossem classificados por gênero e espécie, tendo-se assim mais facilidade para o seu estudo.

O Aquarismo continuava se aperfeiçoando, mas ainda contava com técnicas muito rudimentares. Lamparinas de querosene ou bicos de gás eram colocados sobre os aquários, com o intuito de aquecer os pobres peixes. Nessa época (sécs. XV ao XIX) não havia eletricidade. Principalmente na Europa, muito também na China e no Japão, espécies tropicais estavam sendo domesticadas, e o “hobby” estava se tornando cada vez mais popular.

Quando surgiu a eletricidade, no século XX, os aquários começaram a dar aos peixes mais conforto, pois já estavam inventando alguns aquecedores rudimentares, junto com uma iluminação precária. De 1900 em diante, o Aquarismo conhece um desenvolvimento considerável.

lebisteNos Estados Unidos, aquaristas como William Thorton Innes (hoje considerado pai do aquarismo) fizeram surgir a “Primeira Sociedade de Aquariofilia de Peixes Tropicais”. Neste país o aquarismo conheceu um grande desenvolvimento.

Na Europa, surgem os primeiros aquários públicos.Uma boa gama de espécies já era conhecida, e os europeus e americanos já tinham tecnologia e idéias suficientes para montarem lindos aquários. Vegetação aquática já era utilizada e os materiais que podiam compor a decoração eram muito estudados.

Em 1922 o Brasil conhece sua primeira exposição de peixes, na Exposição da Independência, na qual os japoneses exibiram seus belíssimos exemplares de carpas e kínguios em aquários, causando impacto e despertando interesse de muitas pessoas. Essa atividade por aqui era inédita.

Na Alemanha já havia um considerável desenvolvimento aquarístico: aquecedores aperfeiçoados, primeiros filtros desenvolvidos e criação de peixes em cativeiro (o que ocorria também nos Estados Unidos).

Em 1934, um alemão radicado no Brasil fundou a primeira loja especializada em peixes ornamentais.

Atualmente a tecnologia aquarística mundial encontra-se muito aperfeiçoada e em franco desenvolvimento, principalmente nos Estados Unidos e Alemanha (detentores de tecnologia de ponta), o que nos permite criar de um simples peixe-japonês até um complexo aquário marinho com delicadíssimas espécies de corais, esponjas, outros invertebrados e peixes.

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Desde quando surgiu o Aquarismo até bem pouco tempo atrás, a grande maioria dos peixes que víamos nos aquários eram capturados em seu hábitat. Com a demanda cada vez maior, algumas das espécies mais comercializadas foram reproduzidas em cativeiro, como kínguios, carpas, lebiste (Poecilia reticulata), espada (Xiphophorus helleri) etc.

As técnicas foram sendo cada vez mais aperfeiçodas, e hoje temos criações profissionais de várias espécies. Porém, algumas espécies como neon (Paracheirodon spp.), aruanã (Osteoglossum bicirrhosum), poraquê (Electrophorus electricus) etc. não compensa criar em cativeiro, pois a produção e o índice de sobrevivência são muito baixos, além do alto custo. O homem decide, então, retira-los em larga escala de seu hábitat sem, no entanto, tomar os devidos cuidados para a preservação da espécie. De cada 4000 neons retirados da Amazônia, por exemplo, menos de 500 conseguem viver mais de 1 ano em aquários. É uma proporção assustadora, ainda mais quando pensamos que, desses 4000 espécimes, 2000 morrem antes de serem vendidos. Isso porque a metodologia empregada na captura e transporte é totalmente arcaica, sem contar que muitos coletores não se importam com a saúde e bem-estar desses peixes, importam-se somente com o maior lucro possível. Outro exemplo que merece ser citado é o do aruanã: para comercializa-lo, os “peixeiros” capturam os alevinos ainda com saco vitelínico. Com todo o stress que sofrem durante a viagem, apenas 25% dos peixes capturados sobrevivem. Desses, apenas 20% conseguem viver mais de 6 meses em aquários. Ou seja, de 100 animais capturados, apenas 5 sobrevivem. Felizmente, notamos que as autoridades estão fazendo o possível para reverter essa situação, ainda que as ações sejam demasiadas vagarosas, em termos legais.

Nós aquaristas devemos ter uma grande variedade de espécies em nossos aquários, mas também devemos nos preocupar, sobremaneira, com a perpetuação dessas espécies. Aperfeiçoar as técnicas de reprodução em cativeiro e os métodos de captura são apenas dois dos itens a serem melhorados.

Você pode começar a preservar a existência das espécies, por exemplo, não comprando peixes em extinção, ainda mais com procedência ilegal ou duvidosa. Adquira essas espécies de criadouros legalizados pelo Ibama. Faça sua parte, sendo um aquarista consciente!

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Este artigo tem muito em comum (mesmas fontes) da introdução de uma apostila já publicada no Portal (http://www.saudeanimal.com.br/doce.htm), e que merece bastante atenção, pela sua qualidade. É uma forma de entusiasmar o leitor a praticar esse hobby tão gratificante. Divirta-se!!

Luigi Leonardo Mazzucco Albano
Bacharel em Química
Auxiliar Veterinário
Aquariólogo